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matilda — 6 de março de 2018

O REAL E O ONÍRICO NA IMAGEM DE MODA DE TATÁ GUARINO

Escrachado, imoderado e hipercriativo. Otávio Guarino, ou Tatá para os íntimos, vem despontando como um dos grandes talentos da fotografia de moda de sua geração. Quase formado em publicidade, trabalhou durante anos como assistente de arte para cinema e assistente de fotografia, desenvolvendo nos últimos anos um trabalho de viés autoral. Figura conhecida na noite paulistana, ele transita entre a cena queer da cidade, super expressiva e cheia de personalidade, e o universo da moda convencional, com seus códigos e estéticas bem definidos. “A moda chegou através de indicações. Sempre gostei desse mundo, apesar de achar que eu nunca pudesse fazer parte disso. No final das contas, foi um meio que me abraçou bastante, e no qual eu pude ser quem eu realmente era”, conta o artista.

Hoje, Tatá coleciona trabalhos publicados em veículos como L’Officiel, Pornceptual e Revista Catarina, mas alguns de seus projetos mais ambiciosos são feitos de maneira totalmente independente, em colaboração com outros criadores, e publicados no seu Tumblr e Instagram. Nos meios digitais, ele coloca em prática outros talentos como o styling, a direção de arte e as colagens. “As revistas de moda ainda são muito engessadas. Muitas vezes eu recebo e-mail com a mensagem de meu trabalho ‘foge da linha editorial’. É normal, mas eu também não fico tentando super me adequar, até porque eu amo fazer colagens nas fotos, é algo quase terapêutico”, justifica.

 

 

A colagem acabou se tornando parte fundamental da expressão artística de Tatá, funcionando como um complemento para suas fotos. A inspiração vem, sobretudo, do início do século passado, quando se tirava retratos em preto e branco de pessoas comuns em estúdios. “Não deixa de ser um tipo de colagem — um estúdio onde o fotógrafo colocava vários elementos e transformava a foto em outra coisa. Gosto de transportar aquela atmosfera para hoje, adicionando cor”, arremata. Essa explosão de cores ganha diferentes sentidos quando estampada sobre retratos de pessoas comuns que Tatá escolhe como seus personagens, em especial performers e drag queens.

 

Ensaio com a cantora e transformista Ivana Wonder

 

E foi dentro desse contexto que surgiu o convite da matilda.my de fazer um editorial fora do convencional, feito essencialmente com personagens do projeto GENTES. Nele, cinco perfis bem distintos e específicos foram clicados em situações cotidianas, mas com roupas, acessórios e objetos de cena que se conectam, de alguma maneira, com o universo da moda. O beauty artist Ricky dos Anjos, que está prestes a lançar um livro sobre “beleza real”, assinou o make.

 

Tatá Guarino fotografando Nérida Cocamáro, uma das personagens do projeto GENTES

 

“Eu gosto muito de tirar essa exclusividade dos modelos e colocar pessoas normais em um contexto de moda, a fim de quebrar a ideia de que esse universo é inatingível”.

Para Tatá, não se trata exatamente de desconstruir os símbolos fashionistas, mas de conseguir transportar as pessoas para esse mundo possível de sonhos, desejos e delírios autorais. É sobre causar um certo estranhamento e também questionar padrões estéticos, mas ao mesmo tempo reverenciar o que a moda traz de repertório social e cultural. “Eu gosto muito desse universo da moda clássica, mas acho que não caibo dentro dele. Não é o que eu quero deixar no mundo, já tem gente demais fazendo isso e o que eu acho que falta mesmo é essa representatividade de todos os gêneros e corpos”, finaliza.

No vídeo, o artista fala um pouco mais sobre as dificuldades de ser um profissional independente e indica caminhos para a publicidade de moda. Play!

Créditos do vídeo:
Produção: Matilda
Foto: Otavio Guarino
Beleza: Ricardo dos Anjos
Looks: Fabio Kawallys, Tom Martins e Muamba Séria
Acessórios: Nart Studio
Sapatos: Lucas Regal
Modelos: Nérida Cocamaro, Raphael Jacques, Marisa Lima de Melo, Felipe Gavazzi, Cristina Rose.
Trilha: Noporn – Cavalo