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matilda — 16 de fevereiro de 2017

MINHA CARNE É DE CARNAVAL

Nós brasileiras, conhecidas por transformar tudo em festa (talvez nosso maior talento), não poderíamos fazer diferente neste Carnaval. Mas pra gente a folia está longe de representar apenas diversão. Junto com o crescente movimento feminista em todo o mundo, mulheres também prometem incomodar bastante no feriado, questionando e quebrando padrões. O Carnaval sempre foi um espaço onde acontecem muitas violências contra a mulher. Pensando nisso, conversamos com carnavalescas que clamam por seu direito de passar na passarela e arrasar sem sofrer agressões. São amigas, colegas e irmãs que se juntaram para usar a festa como palco de suas bandeiras políticas e ideológicas.

Mulheres fortes e cintilantes nos contam de sua história com a festa pagã.

 

    Layana Thomaz é estilista. Carioca, desde muito pequena vive o carnaval intensamente. “Carnaval na minha vida é e sempre foi época de alegria, transformação, encenação, força política, catarse, encontro com meu eu verdadeiro, elevação espiritual…” ela diz.

Negoçada é a marca de roupa que Layana começou com a amiga Maíra Nascimento. Seu lançamento, dia 4 de Fevereiro no Rio de Janeiro, foi um sucesso estrondoso. “A criação da Negoçada é uma resposta para todos os assédios que sofremos e outras muitas situações em que toda mulher é colocada.  Minha luta por respeito e dignidade é constante. Não consigo pensar em mudanças, mas sim em crescimento, movimento e dedicação para estar sempre unida às outras mulheres e juntas nos ajudarmos e nos proteger e nos preservar.”

 

 

A primeira coleção da “Negoçada” tem sete modelos, entre maiôs, tops e hot pants, que crescem em diversas variações de cores, bordados à mão e patches exclusivos, desenvolvidos pelas criadoras, além dos adereços de cabeças, também confeccionados “one of a kind”.  As roupas e acessórios de carnaval com mote feminista levantam a bandeira do orgulho de ser mulher, do feminismo e do direito da mulher de se amar, respeitando seu próprio corpo e suas ideias, sem seguir nenhum tipo de estereótipo.

 

 

Jul Pagul é fundadora do Bloco das Perseguidas. O Bloco que neste feriado fará 3 anos é uma ressignificação de uma violência brutal sofrida pelo seu ex-sócio. No dia de uma audiência que resolvia o litígio societário o ex-sócio pendurou na rua do estabelecimento cartazes gigantes com sua cara como uma macaca e imagens de genitália impressa com os dizeres “PERSEGUIDA”.  Foi nesse momento que Jul  se juntou a uma amiga carnavalesca, Marina Mara, e tiveram a ideia de transformar a dor em celebração, criando o bloco.

“Hoje tenho mais coragem de ser quem sou. Mais integridade em ser quem sou. Hoje tem muitas mulheres inspiradoras em muitas frentes de luta. Amo esta diversidade, esta cumplicidade.”

        “O carnaval é a maior festa do planeta, o melhor antídoto aos tempos fascistas que retornaram… Em várias culturas tocar tambor e dançar é um antídoto aos tempos de dor e hipocrisias. Se conseguimos manter o carnaval vivo, sem precedentes para censura e infortúnios fascistas já será uma vitória.  Gostaria de poder criar mais fantasias, danças, marchinhas, de compor mais… Mas, o carnaval tem muitas burocracias que vamos destravando a cada ano. E este é um processo bem desgastante. Quero fazer filme, livro, disco sobre o carnaval… quero pular o carnaval em outros países… Quero criar um manifesto, quero que meu corpo seja um manifesto, quero minha alma descolonizada. “ Pelo direito de ir, vir e ser: desejamos a todas um excelente feriado com muita diversão — e muito respeito!