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matilda — 15 de fevereiro de 2018

GEOMETRIA SOCIAL: A DIMENSÃO HUMANA NAS COLAGENS DE ANNA CHELES

“A arte existe porque a vida não basta”. A frase de Ferreira Gullar expressa bem a angústia que toma conta da alma de um artista, e que faz com que o cotidiano não seja o suficiente para expressar ideias e sentimentos. Com Anna Cheles não é diferente: é da inquietude que vem a sua arte. Sufocada pelo dia a dia estressante de agências de publicidade pelas quais passou, ela logo percebeu que o trabalho que exercia como designer já não dava conta de seus potenciais artísticos. Foi assim que, em 2014, resolveu se dedicar à fotografia, atividade que serviu também como porta de entrada para experimentações posteriores com colagem. Hoje, com apenas 26 anos, ela envereda ainda no exercício da escultura. Segundo Anna, a colagem digital acaba sendo o elo entre seu ofício de designer gráfica e as fotografias. “No primeiro eu sou muito mais obsessiva com texturas e formas geométricas, enquanto que no segundo o foco são as pessoas e a possibilidade de explorar o que o corpo oferece de informação junto a espaços e cenários. A colagem é justamente o caminho que encontrei para aliar grafismos e simbologias que fazem parte do meu repertório às imagens que clico por aí”, conta. Essa união de cores e figuras com o humano presente nas fotografias ganhou forma recentemente nas obras criadas por Anna para a matilda.my. O processo colaborativo começou em janeiro deste ano, quando a artista se incubiu da difícil tarefa de aplicar suas colagens nas fotos do GENTES, projeto que retrata e ouve histórias de “pessoas reais” pelas ruas de São Paulo.

Valdiza, artesã de origem indígena, na foto do projeto GENTES e na arte de Anna Cheles.

Nesse trabalho inédito, o objetivo de Anna foi manter a integridade da foto e das falas dos entrevistados, tendo em mente o fato de que o argumento dos personagens era de extrema importância para o resultado final. “Eu quis manter a expressão daquelas pessoas, e para isso tive que destacar certos aspectos — as feições, os gestos, os olhares. Como são histórias muito diversas, eu percebi que haveriam elementos muito distintos em cada obra, mas eu tentei ao máximo manter uma linguagem que fosse comum a todas. Eu demorava um dia para fazer uma imagem, foi um grande desafio, me senti muito honrada!”.

Cristina Rose, mulher trans integrante da equipe da matilda.my

Destrinchando ainda mais seu processo criativo, Anna reflete sobre como seu olhar acabou trazendo um contraponto ao peso das imagens. “As fotos tinham muito aquela coisa ‘seca’ da dor daquelas pessoas, transmitida através do olhar, de gestos e cicatrizes. O que eu sinto é que minha mão deu um novo olhar sobre aquele trabalho, mais leve sobretudo graças ao uso de cores”, explica. “A foto do Alexandre é um bom exemplo disso. Tem a coisa da dor de ele ter sobrevivido a uma guerra, e os grafismos acabam tirando um pouco do peso e colocando a fotografia em outro patamar, oferecendo mais vibração e movimento”, completa.

Alexandre, imigrante sírio no Brasil

Essas e outras obras autorais de Anna Cheles poderão ser vistas na exposição “Geometria Social”, com abertura no dia 24 de fevereiro, às 15h, na sede da matilda.my.   No vídeo, Anna conta um pouco mais sobre a parceria e dá pistas de como a publicidade pode ser transformada através da arte.   Serviço: “Geometria Social” por Anna Cheles Abertura: 24 de fevereiro de 2018, às 15h Período expositivo: 26 de fevereiro a 2 de março, das 11h às 19h Endereço: Rua Piauí, 1164 casa 3 – Higienópolis – São Paulo – SP Entrada franca