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matilda — 8 de maio de 2018

EDITORIAL: MATERNIDADE

Ser mãe é uma vocação? Um dom? Um “desígnio natural do papel da mulher”?   É certo que todo ser humano assim que nasce não consegue cuidar sozinho de si mesmo e depende da atenção e cuidados dos outros para sobreviver. Mas o mesmo acontece na velhice, quando muitas vezes não temos mais forças para enfrentar simples tarefas do dia a dia e voltamos a ser dependentes. Dessa forma, o novo depende do velho e o velho depende do novo para seguirem vivendo, o que determina a nossa natureza enquanto seres sociais.   Mas, se a criação dos novos seres é tão essencial para a manutenção da vida em sociedade, porque apenas uma parte do gênero humano deve ser responsável por esse cuidado? Essa visão, de que unicamente a mulher tem a obrigação de cuidar dos filhos enquanto o homem vai trabalhar para trazer proventos para casa, se desenvolveu junto com a divisão do trabalho em papéis de gênero na sociedade.   Ao mesmo tempo em que o trabalho de criação das novas gerações foi passando cada vez mais para o âmbito privado, deixando de ser uma responsabilidade de todos os membros de uma comunidade, as mulheres também passaram a ficar mais reclusas dentro das casas. A exclusão dos espaços públicos tinha uma intenção muito clara: impedir que elas desenvolvessem relações com outros homens e assim garantir a paternidade sobre os filhos numa época em que não havia teste de DNA.   Por isso, quando falamos de maternidade é impossível não falar da opressão às mulheres e sua ligação com o gênero feminino como construção social. Neste mês de maio, aproveitando a tradicional comemoração de “Dia das Mães” no segundo domingo, nós da Matilda resolvemos abordar o tema Maternidade a partir de diferentes óticas, de diferentes sujeitos, de diferentes realidades.   Buscando ampliar o nosso olhar, analisando como a questão da maternidade é encarada por sociedades que se organizam de forma diferente da ocidental, vamos compartilhar a história de vida de Watatakalu Yawalapíitï, líder indígena que ajudou a fundar a Associação de Mulheres Xinguanas.   Exemplo de luta em defesa dos direitos e saúde dos filhos, vamos entrevistar Luiza Pannunzio, cartunista e empresária de moda cujo primeiro filho nasceu com fissura labial. Da dor, nasceu a peça “O menino que não sabia chorar” e a ONG As Fissuradas, que a tornaram uma AGENTE e autoridade sobre o tema.          Também vamos conversar com uma mãe negra soropositiva, que enfrenta o preconceito de uma sociedade que a julga não apenas por ser mulher, mas também pela cor de sua pele e por viver com HIV, algo ainda muito estigmatizado e pouco discutido. Investigando como a construção do gênero influencia o desejo das mulheres de serem mães, vamos conversar com diferentes pessoas trans, homens e mulheres, buscando, através de suas intimidades, descobrir como elas veem a questão da maternidade, tanto como pessoas que foram socializadas para desejarem isso desde a infância, quanto como pessoas que sempre foram excluídas dos espaços femininos e que hoje enfrentam essa questão tão ligada ao gênero.   Também abordando a questão da construção do gênero na infância, vamos realizar uma Mini Mostra de Cinema e Debate com diversas mães sobre expectativas que são geradas em torno do gênero dos bebês no nascimento. O evento contará com a curadoria da cineasta Bárbara Cunha, autora do documentário Sereias e Borboletas.   E, colaborando como Ilustre do Mês, convidamos a ilustradora Joana Cocarelli para criar uma série de colagens exclusivas para a Matilda, abordando temas que se relacionam com a maternidade, como aborto, parto humanizado, mães de maio, entre outros. Acompanhe as nossas atualizações nas redes sociais, Facebook e Instagram, e não perca nenhuma matéria do nosso site.   *Imagem em destaque: Ilustração feita por Luiza Pannunzio.