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matilda — 20 de fevereiro de 2019

ASTROLOGIA E ANCESTRALIDADE COM TATI LISBON, A PAPISA

Arte, música, esoterismo, memes e rolês. Esses microuniversos se fundem e ajudam a formar a personalidade enigmática de Tati Lisbon, a Papisa da internet. Canceriana com ascendente em aquário e lua em peixes, ela sabe que suas missões de vida envolvem a cura, a família e a integração de tudo. “Nada se separa na vida, o campo místico não está separado do profano. É o lance de juntar coletivo, questão social e conhecimento milenar”, explica.

A visão astrológica de Tati é construída com base na sua trajetória como mulher da quebrada. Autodidata e moradora do bairro de Pirituba, na Zona Norte de São Paulo, ela é uma das poucas astrólogas negras conhecidas do Brasil.

 

“Eu tô estudando uma coisa que é dominada por pessoas brancas, que é completamente elitista. Para mim, como uma mulher preta, fazendo o que eu faço, um dos grandes pontos é usar a astrologia de forma acessível e viável pra todo mundo”

 

Assumir essa responsabilidade não é tarefa fácil. Na prática, isso envolve estudar e estar consciente do passado para construir bases menos opressoras para o futuro. E também democratizar o acesso ao conhecimento astrológico. “Como que eu consigo mostrar que isso realmente é útil, assim como técnicas de respiração, assim como uma constelação familiar?”.

A imersão no meio esotérico começou cedo, aos 12 anos. Mas foi só em 2015 que surgiu, de fato, a Papisa. Tati já fazia consulta para os amigos mais chegados, então por que não se profissionalizar de uma vez? Criou nome, logo, identidade, cor e perfil nas redes sociais. Hoje, com 26 anos, ela conta com mais de 34 mil seguidores no Instagram (@papisa_).

O nome foi dado por um amigo que, vez ou outra, cortava as cartas para saber sua sorte. A Papisa, a carta 2 do tarô, é dirigida ao princípio feminino e representa mistério, intuição, fé e sabedoria. Nada mais apropriado.

 

O olho esquerdo de Tati, com a pintinha, é a marca registrada da Papisa

O olho esquerdo de Tati, com a pintinha, é a marca registrada da Papisa

 

A carga familiar

 

Antes de se tornar influencer bruxona, a Papisa passou por muitos percalços. A astrologia não era bem vista entre membros da sua família, e a morte da sua mãe, em 2013, a fez dar um tempo nos estudos. “Estudar questões esotéricas é sempre muita informação, você tem que estar muito bem emocionalmente. Quando a minha mãe faleceu, minha cabeça virou de ponta cabeça, e na minha família astrologia era sempre uma coisa do demônio. Considerando todo esse cenário, em 2013, eu parei”.

Mas como ela mesma aprendeu com o tempo, é impossível fugir de quem se é. Quando retomou o trabalho, com tudo esquematizado, Tati mostrou todo o material da Papisa para seu avô em busca de validação. Para sua surpresa, ele a apoiou e ainda contou uma história incrível sobre seus antepassados: sua avó era taróloga e sua tataravó era uma ativa participante do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensando, em 1900, um lugar que existe até hoje e que estimula a espiritualidade na vida das pessoas. “Nossa, eu fico até emocionada de pensar nisso. Eu acho que eu ainda não fui muito atrás porque quando eu for…É muita coisa, eu acabei de perder minha mãe, eu preciso focar, e isso é muito difícil pra mim”.

 

A música como cura

 

Tati foi criada pelos avós, e não pela mãe. Por conta disso, nunca tinha se aprofundado muito em sua história. Em 2016, decidiu ligar para sua tia para saber como era a vida da mãe. “Sua mãe adorava tocar, ela gostava muito de música, da noite, adorava uma festa. E ela te levava quando você era criança, quando sua avó deixava”, contou a tia.

Ela já sabia que sua mãe era uma mulher à frente do seu tempo: era DJ, trabalhava na noite, era lésbica e mega empoderada. Mas essas novas revelações foram decisivas para suas novas escolhas de vida.

Em julho, próximo de seu aniversário, ela se inscreveu num curso de DJ e resolveu seguir carreira também nessa área. “O que eu sinto energeticamente é que eu estou seguindo um fluxo que já passou por mim, sabe? Minha mãe já fez essa abertura de caminho na noite”.

Hoje, totalmente ciente de sua carga ancestral e seguindo suas vontades, Tati está no processo de conciliar todas as suas narrativas.

 

Essa questão de ancestralidade é algo muito forte na minha vida, porque é como se eu sentisse ela de um jeito muito visceral. Eu tô seguindo uma história que já foi contada. Então mesmo tendo essa representatividade como Papisa, mesmo na internet fazendo memes, tendo conteúdos diversificados, o que me estrutura nisso é muito fixo

 

Nós fomos até a casa de Tati conhecer um pouco mais sobre suas raízes “bruxônicas”. Assista ao vídeo: