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matilda — 9 de maio de 2017

TERRA LIVRE EM BRASÍLIA

A primeira motivação que tivemos quando fomos até o 14º Acampamento Terra Livre (ato que reuniu mais de quatro mil indígenas e duzentos povos de todo o país, o maior deles até então*) em Brasília, entre os dias 24 e 28 de abril deste ano, foi testemunhar uma cultura que é intrinsecamente brasileira. Um contato com uma realidade nacional que nunca aprendemos na escola. Nos foi relevante procurar entender — num esforço para fazê-lo da forma mais livre de julgamentos possível — as reivindicações daqueles povos. Muitos deles vivem em situação de risco, tanto pela falta de políticas públicas de valorização, proteção e preservação, quanto pelas represálias de grupos com interesses que vão de encontro à ocupação de suas terras. A carta com a declaração do acampamento, uma leitura pertinente, pode ser encontrada neste link. O que vimos lá foi ao mesmo tempo elucidador e instigante, trazendo algumas reflexões sobre as razões pelas quais toda aquela gente se reunira na Esplanada dos Ministérios. Para nos relacionarmos com outra cultura, é necessário entendê-la, e coube a princípio nos colocarmos na posição de expectadores. Talvez uma das observações mais pertinentes que podemos fazer aqui — através da nossa assumida ótica de privilégios — é que muito da alienação dos viventes dos centros urbanos em relação aos povos originários parte de uma não aceitação da diferença. Nada que surpreenda: é mais conveniente classificar o diferente como inferior, atrasado, primitivo. Em contradição, quando o estranho se assemelha aos nossos, causa um certo desconforto: não é raro ouvir comentários desconfiados à vista de um índio utilizando um gadgetou peça de roupa do “homem branco”. Em contrapartida, o olhar dos representantes das populações indígenas sobre a nossa presença era, embora receoso, coberto do respeito que é o cerne de suas reivindicações — que vão além da ocupação de terras. Fizemos uma série de fotos numa das marchas que ocorreram em Brasília, cada uma delas com uma pequena narrativa — desde os diferentes rituais de preparação a uma perspectiva das expressões dos que ali estavam presentes. *Segundo dados da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), organização que promove o Acampamento Terra Livre.