Concierge, gerente de motel 5 estrelas, auxiliar administrativo e até anfitrião de karaokê. São essas algumas das profissões pelas quais já passou Jonatas Rodrigues — mais conhecido como Jeza da Pedra —, multiartista do Rio de Janeiro que acaba de lançar o videoclipe de Terrorista Viado, música que tem potencial para virar hit na internet e nas baladas pelo Brasil.
Sua experiência com o público não é novidade: Jeza já tocava nos bares do Vidigal, voz e violão, um estilo que chama carinhosamente de sapamusic. Mas foi apenas há 2 anos que resolveu largar o mercado formal de empregos para se dedicar ao que realmente gosta de fazer: arte. Aos 33, ele envereda pela música, poesia, audiovisual e performance de forma livre, política e autoconsciente. Esse exercício criativo culminou na concepção de um personagem muito bem localizado.
“Jeza é uma entidade antropotrávica da Floresta da Tijuca que veio para lançar um set da passividade na onda neocareta brasileira”, dispara em uma videoconferência animada. A escolha da alcunha vem da época em que escrevia poesia e contos, e assinava com o pseudônimo de Jesus Christopher da Silva. “Quando entrei no Facebook queria que meu nome fosse esse, mas a rede social não aceitou. Daí flexionei para o feminino (Jeza) e não houve mais problema”.
Juntando um mar de referências que vão da literatura ao cinema, passando pela música pop americana e pelo funk e pagode cariocas, Jeza se inseriu com muito bom humor na cultura do remix. “É sobre celebrar a música popular brasileira e o entretenimento como um verdadeiro ato de ocupação musical”.
Em Celular, versão forró de Hotline Bling, ele prova isso. Totalmente sem vergonha, transforma o hit em um mix de arrocha, forró e tecnobrega, que é chique e cafona ao mesmo tempo — exatamente como a música original de Drake.
Mas é em canções como Terrorista Viado e a supracitada Cuida Noiz que sua obra adquire uma dimensão política, ao se apropriar do território do pop para levantar questões do ativismo LGBT atual. Jeza se autodenomina bicha terrorista, e explica o conceito: “elas [as terroristas] são personalidades subversivas que ousaram botar a cara no sol e exigirem respeito mesmo estando fora dos padrões pré-estabelecidos. São as gays afeminadas, as feministas, as trans… essas figuras que sofrem preconceito até mesmo dentro do universo LGBT”. E ele sabe bem do que está falando: tudo o que canta é observação das suas vivências transitando na periferia do Rio de Janeiro e entre diferentes recortes demográficos.
Não à toa, aparecem no clipe (uma colagem digital com charme homemade) personalidades emblemáticas da vida noturna e marginal cariocas, como as drag queens Rose Bombom, Kayka Sabatella e Madame Satã. O rapper Mikky Blanco, o artista Ventura Profana e a performer Ex-Miss-Febem são outros personagens que aparecem no audiovisual que o artista chama de vídeo-gambiarra. “Não tinha grana pra fazer um videoclipe, então vi um tutorial do Windows Movie Maker e comecei a mexer e inserir fotos”, explica em tom despretensioso. Em 2010, após um rapaz ser agredido com uma lâmpada na avenida paulista, vítima de homofobia, surgiu a Revolta da Lâmpada, movimento de luta, performance e protesto. Na terceira edição do evento, que aconteceu no último novembro, Jeza subiu no trio elétrico e fez sua primeira grande apresentação.
Na companhia de nomes como o da DJ Luana Hansen (autora da versão lésbica do funk Deu Onda), e da MC Linn da Quebrada, Jeza se insere num movimento de ativismo autoral, no qual o posicionamento político é ressignificado, e se torna muito mais acessível dentro de um contexto de likes e compartilhamentos. “É uma forma de expressar o meu corre marginal LGBT e dar uma roupagem passiva-não pacífica — e jocosa — a um registro do Mr. Catra, por exemplo”.
Não restam dúvidas que a mistura, colagem e apropriações que Jeza faz em seu trabalho são eficazes na hora de passar sua mensagem: cultura pop também é luta, uma afirmação que anda sendo mais atual que nunca.