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matilda — 10 de abril de 2018

EDITORIAL: RELAÇÕES COM A TERRA

A sensação de pertencer a um lugar é muito mais importante do que se imagina. Se identificar e criar raízes vai além de uma realização pessoal, é a conexão mais profunda entre o indivíduo e a terra, o acolhimento de um pelo todo, o ponto de partida nas organizações sociais. A relação do homem moderno com a terra é controversa e a discussão sobre o tema ganha contornos cada vez mais complexos. Do ponto de vista ambiental, a ciência mostra que a vida que conhecemos hoje será insustentável se não repensarmos a forma como nos relacionamos com o planeta. Entender que devemos ser parte da engrenagem e não exploradores é fundamental para a preservação do meio ambiente. Do ponto de vista social, assistimos diariamente povos e comunidades sendo minados. Guerras e disputas territoriais de cunho político e econômico vão, pouco a pouco, varrendo costumes e práticas de populações inteiras, como as indígenas. Os que sobrevivem aos conflitos muitas vezes se vêem obrigados a abandonar suas raízes e partir em busca de um recomeço, deixando para trás lembranças e saudades. Desde a antiguidade, povos inteiros se deslocam devido a esses processos, buscando melhores condições de vida, novas oportunidades e um pouco de paz. A mistura de tradições, práticas e culturas trazidas por esse fenômeno criou o mundo como o conhecemos hoje: extremamente diverso e cada vez mais integrado, fazendo as fronteiras perderem o sentido, pois hoje sabemos que “as pessoas do lado de lá” são tão GENTES como a gente. Pensando nessa complexidade do mundo moderno, na importância da sensação de pertencimento, e na necessidade de ressignificar nossa relação com o planeta, nós da Matilda escolhemos o tema “Relações com a Terra” para guiar nossas produções do mês de abril. Nesse período vamos conversar com Seu Ademir, pequeno agricultor que utiliza a terra como fonte de subsistência de sua família e para abastecer o comércio da região, lidando com as contradições de um mercado que cobra pela produtividade, tornando difícil a produção de alimentos orgânicos livres de agrotóxicos. Abordando a questão da migração nordestina, ainda vista com preconceito, convidamos Priscila Muniz para uma colaboração em texto. Baiana arretada, trabalha com publicidade em São Paulo e enfrenta a xenofobia velada – e por vezes escancarada – da grande metrópole. Para finalizar, resgataremos o discurso do escritor e filósofo Olívio Jekupe, da aldeia Krukutu, sobre a espoliação que os indígenas vem sofrendo desde 1500, antecipando um tema que também abordaremos em nossa viagem à Brasília para acompanhar o “Acampamento Terra Livre”, maior mobilização indígena do país, que este ano terá o tema “Unificar as lutas em defesa do Brasil Indígena – Pela garantia dos direitos originários dos nossos povos”. Embarque conosco nessa jornada de Reconexão com a Terra e não deixe de nos acompanhar nas redes sociais, Facebook e Instargram, para não perder nenhuma novidade no nosso site.