×
matilda — 22 de setembro de 2017

O MUNDO INVISÍVEL DOS CATADORES DE SP

“O mundo precisa mudar e precisa mudar logo” – Fabiana Silva O aviso é dado em tom consciente e urgente. A fala vem de uma mulher que sabe como poucos o que é batalhar de sol a sol e ter sua presença ignorada por parte grande parte pessoas que são beneficiadas pelo seu trabalho.

Produzindo mais de 78 milhões de toneladas de lixo por ano e carente de políticas públicas eficientes para lidar com o descarte e a reciclagem desses resíduos, o Brasil insiste em deixar à margem da sociedade quem se dedica por conta própria a contribuir para essa tarefa homérica.

Fácil é uma palavra que passa longe da vida de quem percorre a maior cidade da América do Sul puxando um carrinho pesado para recolher aquilo que já não interessa a mais ninguém. Tratados como seres invisíveis, catadoras e catadores vão desempenhando um importante papel socioambiental de forma quase imperceptível. Com ouvidos, corações e mentes bem abertos, conversamos com catadores da cidade de São Paulo durante o mês de agosto e saímos transformados da experiência.  

 

Alendino Nunes, 34 anos  

 

 

“Faz uns 6 anos que eu puxo carroça. Eu tinha família, perdi tudo por causa do crack, essa é a verdade, vim para a rua e hoje estou puxando a carrocinha pra me manter. 

O povo hoje em dia não está nem comprando, nem jogando fora, e não está nem gastando, porque hoje não está tendo. Uns quatro, cinco anos atrás, carroceiro ganhava bem, vivia bem. O povo não está tendo como gastar, está se mantendo ali, sobrevivendo. Tá difícil, porque o crime te oferece mais dinheiro do que puxando uma carroça. “

 

Jurandir Alves, 46 anos

 

 

 

“Ando limpo, cabelo cortado, barba feita. Minha relação com as pessoas é um bom dia, um boa tarde, muito obrigado, educação total. Nem todos respondem.  

Meu maior sonho é arrumar um emprego bom, e o dia perfeito é quando eu ganho uma moedinha a mais e chego em casa alegre, sem ninguém bagunçar minha vida.”  

 

Fabiana Silva, 39 anos

 

 

“Tem uns que olha normal, olha. Tem uns que cumprimenta, tem uns que não. Tem uns que, quando vê a gente com a carroça passando no farol, fecha o vidro. A maioria faz isso, no farol, fecha o vidro quando vê a gente passando. Acho que pensa que vai pedir, né? Só que eu não peço nada para ninguém, não. Tem uns que ainda critica a gente, você acredita? Eu não sei o porquê. Que a gente não está fazendo nada de errado, nada de ruim, a gente tá é ajudando a população, a sociedade, tirando a sujeira da rua”.“Tem uns que olha normal, olha. Tem uns que cumprimenta, tem uns que não. Tem uns que, quando vê a gente com a carroça passando no farol, fecha o vidro. A maioria faz isso, no farol, fecha o vidro quando vê a gente passando. Acho que pensa que vai pedir, né? Só que eu não peço nada para ninguém, não. Tem uns que ainda critica a gente, você acredita? Eu não sei o porquê. Que a gente não está fazendo nada de errado, nada de ruim, a gente tá é ajudando a população, a sociedade, tirando a sujeira da rua”.  

 

José Anchieta, 47 anos  

 

 

“Faz tempo que trabalho como catador, viu, doze anos. Sou de Pernambuco, Recife. Vim para São Paulo, trabalhei numa firma aí e depois comecei a puxar carroça. A firma acabou o contrato, mandou todo mundo embora. Serviço está difícil, aí tem que catar, vender e ganhar dinheiro para o feijão e o arroz.

Meu sonho era arrumar um sítio, morar numa chácara, trabalhar de caseiro. Plantar milho, feijão, abóbora, tudo que precisa no roçado, eu ia fazer isso daí. Eu gosto da roça, né?”