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matilda — 4 de novembro de 2019

Monique Evelle: “O racismo deu tão certo que até pra ganhar dinheiro a gente tem desculpa”

“O capitalismo retro-alimenta o racismo e tudo que se deve imaginar. Porém a gente precisa estar no topo e sendo a dona da caneta pra poder criar um novo sistema que eu não sei qual é.  Porque nenhum deu certo até agora”, disse Monique Evelle — empresária baiana que propõe novos horizontes ao mercado quadrado de comunicação. 

A empreendedora completou 25 anos em setembro deste ano e está à frente de diferentes iniciativas que valorizam o potencial criativo dos periféricos. Ela é CEO dos projetos Desabafo Social, Radar.vc e Evelle Consultoria. Também é uma das mentes por trás da festa Batekoo, um dos rolês mais legais de São Paulo que teve início em Salvador e já rodou com edições Brasil afora. 

Ao Fundo Verde, Monique falou sobre o modelo esgotado das agências de comunicação e a necessidade de girar a engrenagem da grana para as mãos do povos periféricos. “O racismo deu tão certo que até pra ganhar dinheiro a gente precisa ter desculpa”, diz. 

Na visão dela, o alto escalão do mercado de publicidade ainda não percebeu a potência criativa que o chamado “diferente” pode agregar na estrutura dos negócios.

“O que foge dessa regra deles é desesperador, porque eles não sabem lidar. Então vão tentar silenciar o tempo todo porque o novo dá aquela coisa ‘meu deus, ela vai começar desse jeito e quebrar a empresa, não pode!’. Eles não sabem lidar com o diferente, ponto”.

Recentemente, a empresária tem trabalhado em um modelo de negócio que não precise passar por um processo de inclusão da diversidade, tendência que está no hype do mercado de comunicação. Feita em parceria com a Bullet, a agência de comunicação Responsa tem o objetivo de potencializar as mentes criativas oriundas das periferias. 

“Perguntaram: mas por que uma agência? Minha gente, porque nunca teve nós criando do zero, sendo os criativos, gestores de projeto, tudo. Então assim, deu errada [a estrutura atual] porque não foi a gente fazendo. A gente vai tentar algo novo. Se der errado, a gente fecha e faz outra coisa e vai estar tudo bem. Não vai ter essa coisa de incluir LGBTQIs, trans, pretos e mulheres. A gente já nasceu assim”.

A ruína do mercado de comunicação, saúde mental, a maneira correta de precificar o trabalho e as perspectivas de mudança foram alguns dos assuntos abordados na entrevista. Assista!