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matilda — 18 de outubro de 2019

Madama Br000na: “Tenho a sorte de trabalhar com uma coisa que eu amo e odiar ela pra sempre”

A astrologia sempre foi um assunto popular, porém o que se viu na última década foi um verdadeiro boom no ambiente digital sobre esse tema. Canais de Youtube, perfis no Instagram e sites que cobram para fazer o seu mapa astral são apenas alguns exemplos de vazão desse tipo de conteúdo. 

Símbolo desse grande momento de virada da astrologia no Brasil, a astróloga Bruna Paludo — criadora da personagem Madama br000na — conversou com a gente sobre o hype do misticismo, como a publicidade absorveu o tema e também comentou sobre a sua responsabilidade enquanto influenciadora.

 

Nas mãos de bruxas modernas como a Bruna e a Papisa, a astrologia ganhou uma roupagem memética, mas sem perder a seriedade de interpretação de sua essência. E os memes com certeza fazem com que o alcance desses conteúdos sejam potencializados nas redes sociais.

“Agora a astrologia está sendo usada num contexto atual, mas ela já foi popular outras vezes. Acho que faço parte disso, de alguma forma eu trouxe isso para o Instagram e não lembro de de pessoas com mais relevância ou mais destaque que fizessem esse tipo de coisa misturando formatos quando eu comecei”, diz.

 

Astrologia e senso coletivo

Embora a maioria das pessoas entenda a interpretação da astrologia como algo que deve ser aplicado ao indivíduo, Bruna defende que é necessário repensar essa lógica. Para ela, é preciso se desapegar do “eu” para compreender, inclusive, o desmonte evidente das estruturas religiosas. 

“É tudo muito voltado para o que eu posso fazer para me melhorar, eu me sentir bem, eu, eu, eu o tempo todo. E enquanto acontece isso, a gente tem, de certa forma, uma desestruturação das religiões, daquela comunidade religiosa”, destaca. A astróloga acrescentou que as pessoas têm adotado uma orientação espiritual mais autônoma, de modo que uma característica é a identificação com ensinamentos de diferentes religiões. 

“Isso é bom por um lado, mas ao mesmo tempo acaba ficando todo mundo desprotegido e esquecem que espiritualidade é sobre ecologia, na verdade. É sobre política, é sobre justiça social”.

 

No divã com a publicidade

Com quase 180 mil seguidores no Instagram, naturalmente a astróloga despertou interesse de marcas que investem em estratégias digitais para possíveis campanhas. Ela conta que sua relação com a publicidade tem sido de amor e ódio, no sentido de que busca equilibrar o interesse financeiro e o propósito de linguagem que a propaganda ganhou atualmente. 

“Eu tenho muita dificuldade de negar o trabalho, de dizer não, porque também se tem uma ideia do quanto a publicidade é muito foda. Porque, de certa forma, ela substituiu a arte, a poesia, tudo vira para o discurso publicitário, tudo vira utilitário”, conclui.

Veja também: A era dos memes com Aslan Cabral.