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matilda — 5 de julho de 2019

Jackson Araujo: “Precisamos nos colocar como um corpo permeável para construir um sistema virulento de transformação”

O comunicólogo e consultor criativo fala sobre os novos caminhos da moda e da comunicação

 

Calça amarela, jaqueta azul e chapéu vermelho. A escolha de cores primárias para compor o look dentro do nosso Fundo Verde diz muito sobre o entendimento de imagem de moda de Jackson Araujo. Formado em Comunicação na Universidade Federal do Ceará, já atuou como jornalista, fotógrafo, maquiador, cabeleireiro, stylist, cenógrafo, diretor de arte e trilheiro. Hoje, para resumir suas competências, prefere ser chamado de comunicólogo e consultor criativo.

Sua pesquisa no mercado de moda vem de longa data, mas foi em 2013 que surgiu a semente do “Trama Afetiva — Uma experiência em upcycling”. O projeto, que é uma ação estruturante que discute a sustentabilidade para além do resíduo têxtil, serve como ponto de partida para novos aprendizados sobre um futuro que já chegou, e que coloca a pessoa no centro dos processos.

“A ideia é não somente abordar o processo da indústria, do fazer, da tecnologia, como consumir. Porque isso tudo é muito vazio quando você fala de pessoas que não têm acesso à internet, pessoas que não têm a merenda escolar…Então a gente tem que parar para pensar que os nossos privilégios são responsabilidades. Essa é a pauta que me move, o privilégio de quem constrói a trama e as responsabilidades para o coletivo“.

Essa linha de pensamento entende que a moda não é mais sobre roupas, mas sobre pessoas, corpos e discursos. E com isso vem a necessidade de se construir um sistema que não é mais sobre exclusão ou exclusividade. Segundo Jackson, a vertente do “faça você mesmo” saiu de cena para dar lugar a pessoas que agem coletivamente em prol da transformação.

 

De olho na nova geração

Habitué da Matilda Casa e pesquisador ávido de tendências de comportamento, ele acompanhou de perto a ocupação de Enantios Dromos no nosso espaço. A partir da performance que viu do artista, escreveu uma pensata e passou a ler e pesquisar muito sobre as pessoas que fazem parte de seu entorno e a maneira como elas abordam o gênero e o não-binarismo.

Para os que ainda não entenderam o que essa geração representa, ele explica: “É exatamente uma resposta dessa perfeição de tudo, dos aplicativos de facetune, do photoshop, dos acabamentos. A Vicente Perrotta é outro exemplo maravilhoso de como a moda pode realmente ser uma narradora dos tempos, e não ser só um corpo de vaca no açougue do luxo, fatiado por labels. É matéria-prima para a construção de um novo imaginário identitário sobre corpo, gênero e identidade”.

 

Corpo permeável

Mas como entender e estar atento a todas essas mudanças? Para Jackson, isso passa por uma retomada de consciência que envolve o autoconhecimento e a permeabilidade. “Você se juntar com outros corpos e outros discursos que você não conhece, se colocar como um corpo permeável, que você recebe informação, pode transformar aquela informação e jogar para outras pessoas e construir realmente um sistema virulento de transformação. Esse sistema autocrático, autocentrado, de cima pra baixo já era”. 

 

Assista ao vídeo e entenda mais sobre esses novos novos caminhos de inovação: